segunda-feira, 7 de abril de 2008

Paixão requentada

Tudo era mais simples agora, depois dos trinta. Bem depois dos trinta...
Mais simples do que quando se tem dezoito anos.
Ele deu-lhe um beijo na boca. Tímido no início, mas logo se tornou um baita chupão, daqueles bem babados. Sua mão direita segurou a nuca, a outra mão a envolvia pela cintura. Seus dedos por dentro dos cabelos curtos e negros dela.
Puxou-a firme contra o seu corpo enquanto prolongava o beijo. Sua língua viajava dentro daquela boca perfeita. Ela retribuía com paixão.
Teve uma ereção. Por um momento ficou constrangido por ela perceber. Um pensamento pueril, como no tempo em que os dois eram adolescentes. Depois considerou que suas ereções não eram mais como antigamente e que talvez ela nem tivesse sentido. Depois... dane-se! Era para sentir mesmo o seu pau duro. Duro como há muito não ficava.
Ela era uma paixão requentada, ele sabia. Mas paixões antigas, mesmo as que estão adormecidas podem ser poderosas. Mexem. Sacodem toda uma vida. Fazem voltar no tempo.
A paixão é algo que cresce mesmo quando você evita com todas as forças.
Estava tudo errado, mas e daí? Era bom e ele estava feliz.

Marcaram outro encontro. Num café no centro da cidade. Num ponto pouco movimentado, longe do trabalho dele.
Ele saiu do trabalho apressado e seguiu a pé até lá. Entrou na livraria, subiu as escadas para o café. Olhou em volta, não a viu de primeira. Um pensamento turvo logo surgiu: ela não me esperou.
Mas ela estava ali. Sentou-se na mesa e a cumprimentou com um beijo no rosto. Mantinham a postura de apenas amigos sempre que estavam em público. Havia um motivo para isso: ambos eram casados.
Ele pediu um capuccino. Nunca pedia um capuccino, mas queria algo maior do que um café expresso. Queria beijá-la.
Era estranho estar ali e não poderem se beijar. Foi o que ela disse. Ele concordou.
Ficou por alguns instantes olhando para o decote do vestido dela.
Ela usava um belo vestido longo. Branco e verde.
Quando percebeu que estava hipnotizado, olhou para o seu rosto. Ela deu um leve sorriso, mas não falou nada. Talvez ele tenha ruborizado, não tinha certeza.
Seus seios eram grandes, maiores do que ele se lembrava. Achou sexy. Queria beijá-la.
Conversaram sobre como poderiam se encontrar de novo. O encontro não durou muito. Saíram. Caminharam juntos. No meio da avenida pararam no sinal. Ele estava louco para beijá-la, mas no meio da avenida era muito arriscado. Nada de dar bandeira em público. Esse era o trato.

3 comentários:

Anônimo disse...

andou lendo Nelson Rodrigues de novo Yuri ?

abracos

Ogro disse...

Você tem razão sobre o tema ser meio Nelson Rodriguiano.
Mas na verdade a inspiração veio da autora Patrícia Melo, no livro O Matador.

Anônimo disse...

O Matador é um ótimo livro... Nelson Rodrigues é bom pra caramba, e seu conto tá parecendo bom, só não gosto desse negocio de ter que esperar pra ler o restante. Posta logo tudo, se não escreveu, escreve logo!!