quinta-feira, 21 de junho de 2007

Harakiri - um conto suicida

Ficou tão fascinado pela beleza das armas que baixou a cabeça para olhar mais de perto, esquecendo-se do vidro. Deu com a testa na vitrine, fazendo barulho. Olhou em volta constrangido para certificar-se de que ninguém tinha visto.

Sacou seu cartão de crédito Itaú Mastercard, pago em dia e à vista durante vinte e seis anos, e comprou as armas. Faziam um lindo par. Seu cartão estava quase estourado. Havia se hospedado no Copacabana Palace para passar seus últimos dias. Vinha comendo do bom e do melhor no restaurante do hotel. Jantou lagosta. Não precisava se preocupar em pagar a conta do cartão. Estaria morto no dia seguinte. Matar-se usando uma espada seria doloroso, pensou. Mas estava decidido.

Era a única maneira digna de cometer suicídio. Enfiar a katana pequena, de nome estranho. Como era mesmo o nome? Wakizashi ou algo assim. Enfiar a tal wakizashi na barriga e torcê-la em seguida. Isso vai doer muito. Mas para ele não importava. Abominava a idéia de uma morte suave, rápida ou indolor. Era a morte de um covarde. Ele sim, morreria como um homem. Talvez gritasse alguma coisa tipo “banzai!” para desferir o golpe fatal. Ou seria “bonsai”? Não. Bonsai eram aquelas arvorezinhas em miniatura. Não tinha nada a ver. Nem “banzai” tinha a ver. Era o grito dos pilotos kamikazes quando atiravam seus aviões contra os navios americanos na Segunda Guerra. Japonês tem lá as suas viadagens, pensou. Mas harakiri é coisa de macho!

Voltou para sua suíte no hotel e deixou o pacote com as espadas sobre a cama. Havia trazido seus CDs preferidos para ouvir em seus últimos dias. Procurou na letra “O”, Ozzy Osbourne, álbum Blizzard of Ozz, faixa Suicide Solution. Achou apropriado. Colocou para tocar no aparelho de som do quarto. Em volume moderado para não ser interrompido por alguma chamada telefônica, reclamando do som alto.

O tom estridente da voz de Ozzy soou irritante, talvez pela primeira vez em sua vida. Desligou.

Lembrou-se que precisava afiar as espadas. Pegou a katana, a pedra de amolar, sentou na enorme cama de casal king size e começou a esfregar o fio da lâmina. Lembrou que não usaria a katana. Ela era só para compor o conjunto, para dar dramaticidade. A wakizashi é que precisava ser amolada. Começou a afiar a arma. Parou. Sempre foi um tanto preguiçoso para trabalhos braçais. Aliás, sempre fora um preguiçoso para tudo na vida. Mas não dessa vez. Morreira com dignidade, com “honra de samurai”.

Resolveu que seria bom escutar um disco. Levantou da cama e passou os dedos pelos CDs. Havia trazido apenas os seus favoritos. Seus 342 CDs favoritos de uma coleção de 1034 CDs originais e 4 piratas. Pegou o Led Zeppelin IV, mas largou. Pensou em algo mais animado. Pegou o Electric e botou para tocar. Aumentou um pouco o volume desta vez. Quando o CD chegou na faixa Born To Be Wild levantou-se de novo para pular a faixa. Não gostava daquela versão. A original sim, era boa. Ocorreu-lhe abrir a gaveta do móvel onde estava o aparelho de som e achou o controle remoto.

Voltou para sua tarefa monótona de afiar a espadinha japonesa. Desligou-se. Seus pensamentos viajavam, lembrando diversos momentos da sua vida. Lembrou dela, e também de algumas outras mulheres que teve. Gostava muito de mulher, mas chegara num ponto que nada mais lhe dava prazer. Por isso decidiu finalizar. Depois de quase uma hora afiando a wakizashi achou que já estava bom. Passou o dedo para testar o fio da lâmina. Fez um pequeno corte no indicador.

Levantou e arrumou suas coisas. Deixou as roupas todas dentro da mala. Guardou os CDs. Pegou seus documentos e colocou sobre a mesinha de cabeceira. Carteira do CREA, do IFP, de Motorista, Cartão de Crédito. Procurou o documento do carro, mas lembrou-se que não tinha mais. Havia vendido o carro e depositado o dinheiro junto com todas as suas outras economias na conta dela, o grande amor da sua vida.
Olhou novamente para a espadinha, erguendo-a até a altura dos olhos. Deixou-a em cima da cama. Tinha uma expressão serena, com um quase sorriso nos lábios. Caminhou até a janela e a abriu totalmente. Respirou fundo, sentindo a maresia.Voltou até a cama e pegou a wakizashi de novo. Seu último pensamento racional foi “vai doer demais”. De sopetão, deu um pulo e correu para a janela, ainda com a arma na mão. Saltou de cabeça para a brisa do mar de Copacabana. Era o sexto andar.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Irmãos Na Magia - um conto de fantasia (parte1)

A chuva caía torrencialmente, criando córregos de água enlameada que iam, aos poucos, erodindo e destruindo o caminho que levava até a cabana do velho druida.
O caminho cuidadosamente decorado com plantas e flores de muitas cores e perfumes agora mais parecia a velha trilha de cabras pisoteada que o era há quatro anos atrás. Dentro da cabana os dois rapazes olhavam através da porta aberta para a floresta encharcada, esperando ver o velho, a quem chamavam de pai, surgir a qualquer momento voltando para casa.

– Não temas. Ele não vai voltar até a noite.
– Eu sei, mas tenho medo que ele nos descubra. Tu não tens?
– Quando descobrir, se descobrir, já será então tarde para que interfira. Não poderá mais impedir-me.

Randal, o mais determinado dos dois, tinha os cabelos compridos e escuros, caídos ligeiramente para frente cobrindo parte do seu rosto e dando-lhe uma aparência misteriosa. Manarus, o outro, achou sua expressão mais sombria do que de costume desta vez. Sempre havia um tom de imensa satisfação quando mencionava o que eles estavam para fazer, mas não era a expressão de Randal o quê mais vinha incomodando Manarus nos últimos dias. Havia algo novo nele, algo intangível como um segredo que só ele soubesse, algo que o tornava mais confiante. Era perceptível em seu tom de voz, às vezes. Noutras vezes era um olhar ou um sorriso meio frio. Além disso, Randal também havia mudado seu discurso. Agora era sempre sobre “ele” conseguir e não mais “nós”. Manarus preocupava-se com esse detalhe e sua preocupação era evidente, mas Randal acreditava que ele apenas tinha receio de ser descoberto pelo pai.

– Sabes que podemos ser punidos pela Deusa, não sabes? – provocou Manarus, fingindo mais preocupação do que realmente tinha.
– Que importa!? Terei um Deus mais poderoso ao meu lado e estarei comungando com um dos seus mais poderosos arautos.
– Estarás tu? E quanto a mim? – disse Manarus, com uma irritação evidente.
– Nós estaremos, meu irmão. Seremos os necromantes mais temidos do reino. Venha, está na hora. O sol já vai tocar o horizonte. Precisamos estar preparados para evocá-lo assim que o sol sumir no horizonte. Quando a lua cheia estiver em seu zênite, ele virá até nós.

A idéia de evocar a entidade chamada Zemian era tão excitante para Manarus que este esqueceu suas preocupações quanto às verdadeiras intenções de seu irmão de criação. Sua excitação era tanta que seu estado era de quase torpor. Sonhava acordado com os poderes que o demônio poderia lhe conceder. Parou então de pensar em Randal e tentou concentrar-se nas estrelas e na lua que galgava o céu noturno. Haviam praticado a arte da astronomia durantes meses até que, finalmente, podiam determinar a posição exata, outrora impossível para eles.

A chuva diminuía. Manarus sabia que em alguns minutos ela cessaria completamente. Graças aos ensinamentos do pai, ele tinha total conhecimento para predizer o comportamento do tempo e do clima.

– Quando cessará a chuva, Manarus?
– Logo – respondeu sem dar importância.

Lembrou-se brevemente dos momentos de alegria e fascínio de sua infância, ao lado do velho druida. Ele os havia adotado e criado como seus filhos, Manarus e Randal. A ambos havia dado o seu nome, Flag. Manarus imaginou o pai, com sua longa barba branca, descobrindo sobre as experiências com magia dos dois. Magia negra, realizada com poder drenado da noite. Nunca teria chegado a este ponto não fosse a determinação do irmão. Determinação talvez não fosse a palavra exata para expressar o comportamento de Randal, desde que começaram a traduzir o livro. A palavra mais apropriada era obsessão.

Desde que pusera as mãos naquele sombrio tomo, Randal não parou mais de lê-lo. A cada noite que passava em claro, aprimorando-se nas nuances da língua, absorvendo cada detalhe sobre demônios e entidades das trevas que habitavam os planos inferiores de existência, Randal ia se tornando mais frio, mais insensível, ou talvez mais maligno... assim como aquelas criaturas de que o livro falava.
Não podia deixar de admirar as qualidades do irmão. Como ele aprendera aquela antiga língua morta em tão pouco tempo, a ponto de conseguir ler com fluência um livro quase inteiro. Era um livro sobre demônios. Como contatá-los e como pedir favores.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Cabaret tocou, mas não vi

Saímos do casamento de um amigo, eu, minha patroa e um amigo. Passei em casa para tirar o terno, deixar minha esposa e partimos para Guadalupe. Eu e meu fiel companheiro de perrengues e furadas em geral.
Uma festa junina de rua complicou a chegada na Lona Cultural, mas não desanimamos. Paramos o carro e fomos a pé. Uma chuva fina começou a cair. Nada disso desanima a dupla de roqueiros.
Chegamos finalmente na porta da Lona. Uma banda desconhecida tocava um rock consistente lá dentro, que se fazia ouvir mesmo na rua com um axé music da festa junina enchendo o saco. Trocamos uma idéia com o segurança e veio a notícia: Cabaret já havia tocado. Se apresentou por volta das 21 horas. Só chegamos lá às 22:30. Rolava a oitava banda da noite que havia começado às 18:30!
Mas roqueiro que é roqueiro não entrega os pontos. Comemos um podrão com uma coca-cola e partimos para a rua Ceará. Cerveja Bohemia de garrafa a R$3,50 e rock rolando na Juke Box, majoritariamente heavy metal. Pé-sujaço, garotada de preto, mais meninas bonitas do que eu poderia esperar. Nada de mais. Porém foi bom ver que o roquenrol avança sobre o território da VM.

sábado, 16 de junho de 2007

Canastra no Jornal da MTV

Foi a banda Canastra que tocou ao vivo no Jornal da MTV ontem à noite e não a banda Cabaret como eu havia informado.
Enfim... a vida segue.

A banda Cabaret toca hoje na Lona Cultural de Guadalupe.

Ira! levanta Vivo Rio com disco novo

O show do Ira! ontem no Vivo Rio ficou dentro do esperado. A banda continua tocando o fino, Nasi, apesar de não ter mais a mesma potência vocal de 20 anos atrás (adoro essa frase feita!), compensa fácil com experiência e vontade e ainda esbanja carisma e simpatia. Os senhores do rock não se estagnaram. Scandurra lança mão (ou boca) do talk-box, ou alguma versão mais moderna desse aparelho, para criar novos efeitos em velhas canções. A banda apresentou as músicas novas que soaram bem de primeira aos meus velhos ouvidos roqueiros.
A casa, no entanto, decepcionou com um esquema de mesas na frente e pista atrás, no pior estilo possível para um show de rock, imitando outras imbecilizadas casas do gênero como o Metropolitan (Atl Hall , Claro Hall, Citibank Hall ou qualquer outro nome que o lugar agora tenha). Com preços altos, além de uma tentativa ilegal de não vender meia-entrada, a casa encheu pela metade. Estacionamento com manobristas acaba atrasando a saída. Não dá para entregar de volta todos os carros ao mesmo tempo, mesmo com um time esforçado de valets. Nasi, Scandurra e até Gaspa lutaram para levantar os VIPs (very imobile people) das cadeiras, enquanto a galera da pista se esforçava para animar o show longe da banda. Beijinhos do Nasi para os atores e para o diretor do novo clipe MTV que estavam na "área vip" foram simpáticos mas dispensáveis. No final das contas Ira! mantém o nível com o novo CD "Invisível DJ", consolidando algumas experiências sonoras agora lapidadas. Os dias de luta passaram, talvez alguns os acusem de serem superficiais como um espinho, porém a banda, e eu também, queremos sempre mais. Valeu o dia.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Pernas-de-pau do Vasco são atropelados pelo Botafogo

Para um vascaíno que viu os times do Vasco de 88/89 e 97/98 jogarem é muito duro ter que aturar o atual escrete da colina. Confesso que tinha uma tênue esperança de acontecer uma pane no Botafogo e o Vasco conseguir até uma vitória magra. No entanto a Lei de Murphy não entrou em ação e deu a lógica. o Botafogo meteu 3 golaços e mais um para fechar o caixão. Tudo bem que o Romário não fez a falta que originou o segundo gol do Botafogo, mas e daí?!? O Botafogo contou com os seus bons jogadores em noite "normal" e com os fracos jogadores do Vasco em noite "ruim". O time do Vasco simplesmente não consegue dar um passe certo. Falta categoria individual, falta posicionamento da defesa, falta objetividade, enfim... falta um time!
Se eu acreditasse em Deus rezaria para o Eurico morrer!
Pelo menos ainda resta o show do Ira! hoje à noite para curtir.
Como diziam os Raimundos: "Eu quero é rock!"

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Discos impossíveis, coleções incompletas

Falando em Ira!, o Nasi ontem me lembrou do CD que falta para completar minha coleção do Ira!
Não tem nada pior para um colecionador de discos como eu, ter coleções "quase" completas.
Aquele maldito disco que falta me enche de sentimentos nocivos sempre que me lembro dele.
Tenho 3 coleções faltando 1 único CD. São eles:

Paulinho Moska - 1993 - Vontade
Capital Inicial - 1995 - Rua 47
Ira! - 1998 - Você Não Sabe Quem Eu Sou

Quem souber o paradeiro destes CDs me avise, por favor.

Ira! ao vivo nesta sexta-feira

A banda Ira! se apresenta amanhã no Vivo Rio, ali no MAM.
A banda traz o show do seu novo CD "Invisível DJ" em única apresentação.
Com Edgard Scandurra (guitarra), Nasi (vocal), Gaspa (baixo) e Andre Jung (bateria). A formação original da banda conta ainda com a adição do tecladista Adriano Grineberg.
Nasi, ontem no Rock Bola da Oi FM, prometeu tocar todas as 12 músicas do disco novo.
Ira! comemora 25 anos de carreira com a turnê desse album, o primeiro de inéditas desde o ótimo "Entre Seus Rins" de 2001.
Preço R$50,00 inteira. Pista é claro!

quarta-feira, 13 de junho de 2007

O palco é pouco

Cada vez que ouço o CD do Cabaret (http://radiocabaret.com.br/) me convenço que essa banda é o que há no rock brasileiro atual.

Merecem mais do que os palcos do Brasil, merecem o estrelato. Entretanto são rock'n roll demais e talvez nunca tenham chance na nossa mídia sem um jabá por trás.
Já apareceram no programa Atitude.com da TVE e nessa sexta-feira vão aparecer ao vivo no Jornal da MTV que vai ao ar às 20:30. Não é nada, não é nada... é quase nada mesmo!

Enquanto isso assistam a um show deles. Vocês não vão se arrepender.

Mas prestem atenção nas letras! Esse história de que rock não precisa de letra foi a maior asneira que Sir Mick Jagger disse na vida. Entre muitas.

Vão tocar nesse sábado 16/06 na Lona Cultural de Guadalupe.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Los Hermanos acabaram... por enquanto

Não me esforcei muito para assistir os últimos shows da banda Los Hermanos na Fundição Progresso. Por várias razões.
Uma delas é o som da Fundição. É ruim. Dizem que está melhorando homeopaticamante na medida do possível.
Outra razão é que dificilmente se ouviria a banda com a Fundição lotada de fãs gritando as músicas. Nada contra a manifestação do público, acho até bonito, mas se a intenção era ouvir o show, já sabia que não iria dar pé.
Jamari França, em seu blog, confirmou minhas desconfianças em relação ao show.
http://oglobo.globo.com/blogs/jamari/post.asp?cod_Post=61153

Os reis do pop se aposentaram cedo, acho que ainda dava mais um disquinho de inéditas com qualidade. É pena.
Que ande a fila.

Biquini Cavadão prepara novo álbum

A banda carioca Biquini Cavadão, apesar desse nome, sobreviveu aos ressequidos anos 90 e segue em frente com sua carreira. Nunca dei muita bola para essa banda que sempre foi muito mais pop do que rock e tinha rasas raízes punk. Muito mais rasas do que as raízes dos Paralamas do Sucesso, por exemplo. São algo como um Titãs com menos membros. E menos sucessos.
Não são ruins, enfatizo. E têm lá sua meia dúzia de fãs pelo Brasil.
O álbum novo tem o título provisório de "Só Quem Sonha Acordado Vê o Sol Nascer". Começaram a gravar hoje.
Título razoável, num estilo meio Pato Fu, meio Los Hermanos (o título, não a música).

Queria saber onde foi parar o disco do Biquini que eu roubei de um amigo, o primeiro disco da banda, ainda em vinil.
Continuo sonhando acabar o Domingo sem começar a Segunda-Feira.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Postagem de inauguração

Esse blog vai falar o que pensa. Se você não gostar reclame ou fuja com o rabo entre as pernas.
Humm... isso ficou um pouco agressivo.
Esse blog é para falar de tudo o que for pertinente... para mim!
Principalmente de música e outas artes menores, tais como cinema, teatro, etc. E coisas interessantes como jogos, esportes, política, literatura, sub-literatura ou o que mais pintar.
Enfim, deixe o seu comentário. Ou não.
Mas vê se escreve direito, destaque-se do analfabetismo dominante da Web ou vá para o inferno!