terça-feira, 19 de junho de 2007

Irmãos Na Magia - um conto de fantasia (parte1)

A chuva caía torrencialmente, criando córregos de água enlameada que iam, aos poucos, erodindo e destruindo o caminho que levava até a cabana do velho druida.
O caminho cuidadosamente decorado com plantas e flores de muitas cores e perfumes agora mais parecia a velha trilha de cabras pisoteada que o era há quatro anos atrás. Dentro da cabana os dois rapazes olhavam através da porta aberta para a floresta encharcada, esperando ver o velho, a quem chamavam de pai, surgir a qualquer momento voltando para casa.

– Não temas. Ele não vai voltar até a noite.
– Eu sei, mas tenho medo que ele nos descubra. Tu não tens?
– Quando descobrir, se descobrir, já será então tarde para que interfira. Não poderá mais impedir-me.

Randal, o mais determinado dos dois, tinha os cabelos compridos e escuros, caídos ligeiramente para frente cobrindo parte do seu rosto e dando-lhe uma aparência misteriosa. Manarus, o outro, achou sua expressão mais sombria do que de costume desta vez. Sempre havia um tom de imensa satisfação quando mencionava o que eles estavam para fazer, mas não era a expressão de Randal o quê mais vinha incomodando Manarus nos últimos dias. Havia algo novo nele, algo intangível como um segredo que só ele soubesse, algo que o tornava mais confiante. Era perceptível em seu tom de voz, às vezes. Noutras vezes era um olhar ou um sorriso meio frio. Além disso, Randal também havia mudado seu discurso. Agora era sempre sobre “ele” conseguir e não mais “nós”. Manarus preocupava-se com esse detalhe e sua preocupação era evidente, mas Randal acreditava que ele apenas tinha receio de ser descoberto pelo pai.

– Sabes que podemos ser punidos pela Deusa, não sabes? – provocou Manarus, fingindo mais preocupação do que realmente tinha.
– Que importa!? Terei um Deus mais poderoso ao meu lado e estarei comungando com um dos seus mais poderosos arautos.
– Estarás tu? E quanto a mim? – disse Manarus, com uma irritação evidente.
– Nós estaremos, meu irmão. Seremos os necromantes mais temidos do reino. Venha, está na hora. O sol já vai tocar o horizonte. Precisamos estar preparados para evocá-lo assim que o sol sumir no horizonte. Quando a lua cheia estiver em seu zênite, ele virá até nós.

A idéia de evocar a entidade chamada Zemian era tão excitante para Manarus que este esqueceu suas preocupações quanto às verdadeiras intenções de seu irmão de criação. Sua excitação era tanta que seu estado era de quase torpor. Sonhava acordado com os poderes que o demônio poderia lhe conceder. Parou então de pensar em Randal e tentou concentrar-se nas estrelas e na lua que galgava o céu noturno. Haviam praticado a arte da astronomia durantes meses até que, finalmente, podiam determinar a posição exata, outrora impossível para eles.

A chuva diminuía. Manarus sabia que em alguns minutos ela cessaria completamente. Graças aos ensinamentos do pai, ele tinha total conhecimento para predizer o comportamento do tempo e do clima.

– Quando cessará a chuva, Manarus?
– Logo – respondeu sem dar importância.

Lembrou-se brevemente dos momentos de alegria e fascínio de sua infância, ao lado do velho druida. Ele os havia adotado e criado como seus filhos, Manarus e Randal. A ambos havia dado o seu nome, Flag. Manarus imaginou o pai, com sua longa barba branca, descobrindo sobre as experiências com magia dos dois. Magia negra, realizada com poder drenado da noite. Nunca teria chegado a este ponto não fosse a determinação do irmão. Determinação talvez não fosse a palavra exata para expressar o comportamento de Randal, desde que começaram a traduzir o livro. A palavra mais apropriada era obsessão.

Desde que pusera as mãos naquele sombrio tomo, Randal não parou mais de lê-lo. A cada noite que passava em claro, aprimorando-se nas nuances da língua, absorvendo cada detalhe sobre demônios e entidades das trevas que habitavam os planos inferiores de existência, Randal ia se tornando mais frio, mais insensível, ou talvez mais maligno... assim como aquelas criaturas de que o livro falava.
Não podia deixar de admirar as qualidades do irmão. Como ele aprendera aquela antiga língua morta em tão pouco tempo, a ponto de conseguir ler com fluência um livro quase inteiro. Era um livro sobre demônios. Como contatá-los e como pedir favores.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como faço para ler o final do conto???

Ogro disse...

Vou publicar as outras partes assim que possível.
Obrigado pelos comentários (espero que seja o mesmo "anônimo" dos outros comentários)