segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Abençoadas por Éos

Essa madrugada olímpica teve uma emoção a mais para mim. Como alguns sabem, sou (ou fui) quase um velejador.

Acabamos de ganhar a primeira medalha olímpica das mulheres na vela. A primeira da vela feminina na história esportiva do Brasil.
Não foi por acaso.

Fernanda Oliveira e Isabel Swan chegaram na regata final na terceira posição geral, brigando por uma medalha de prata ou de bronze.
Nada estava garantido, mas as velejadoras brasileiras deram um show. Largaram muito bem e partiram para uma disputa pessoal contra as israelenses que tinham a quarta posição geral.
A primeira perna foi de contra-vento com aproximadamente 10 nós de vento.
As israelenses ganharam a primeira bóia, cruzando em primeiro lugar com as brasileiras em segundo. A segunda perna foi de popa.
O barco brasileiro se posiciou bem, exatamente atrás do barco de Israel, roubando um pouco do vento.

O vento se manteve praticamente constante durante toda a regata, ou assim pareceu (difícil dizer pois na raia estavam as melhores velejadoras do mundo, o que faz tudo parecer fácil). O barco da Espanha foi penalizado com um 360, provavelmente por alguma contestação de outro barco durante a prova. No começo da regata, as espanholas já tinha fechado um barco e tiraram um fino da popa de outro.

Quando sentiram que estavam mais rápidas, as brasileiras deram o jaibe escapando das israelenses e ultrapassando-as. Passaram então a fazer uma marcação ao barco adversário, mantendo-se na frente e fazendo o barco de Israel perder tempo.

A manobra mais bonita foi quando as brasileiras chegaram na segunda marca, duas boias formando um gate. Elas chegaram de balão com as israelenses na perseguição. Baixaram o balão de forma perfeita e ganharam mais água.

Enquanto isso, as australianas marcavam as holandesas. Para elas bastava chegar perto das holandesas para ganhar o ouro. Para o Brasil era preciso colocar 7 barcos entre nossas velejadoras e as da Holanda. As autralianas nos davam essa esperança até a metada da segunda perna.
Quando perceberam que precisavam apenas seguir as holandesas para garantir o ouro, relaxaram e as holandesas passaram.
O barco da Holanda fez uma grande regata, recuperando 3 posições e garantindo a prata.

Para as Israelenses era preciso passar o barco do Brasil e colocar outro barco entre elas, o que ficava cada vez mais improvável com os dois barcos, Brasil e Israel, disparados na frente.

Na terceira bóia, as brasileiras confirmaram a liderança da regata. Subiram novamente a vela balão para passar pela marca (outro gate) a velejar para a vitória de vento em popa.
Chegada sensacional em primeiro lugar na regata final, que valia o dobro dos pontos e foi disputada apenas pelas 10 melhores colocadas.

comemoração na água


Para comemorar, como de costume, as brasileiras viraram o veleiro 470 e deram um belo mergulho nas águas da baía de Qingdao. As holandesas Marcelien de Koning e Lobke Berkhout repetiram o gesto, chegando em quinto lugar na regata e comemorando a merecida medalha de prata.
O ouro ficou mesmo com as australianas Elise Rechichi e Tessa Parkinson, mas estas não deram o mergulho da vitória. A Austrália fez a dobradinha da classe 470 feminino e masculino, com os velejadores Nathan Wilmot e Malcolm Page, também medalha de ouro.

Medalha de bronze histórica da vela brasileira. A primeira medalha olímpica da vela conquistada por mulheres.

Com uma forcinha de Éos, deus grego dos ventos, houve um vento razoável neste dia e assim o Brasil pode escapar da loteria de uma regata sem vento e mostrar o seu valor. Valor que já vinha sendo reconhecido até pelas transmissões de outros países.

Parabéns para a nossa timoneira gaúcha Fernanda Oliveira e para a nossa proeira carioca Isabel Swan. Heroínas do esporte brasileiro.

Essa Olimpíada nos deu 2 marcos históricos até aqui: primeira medalha de ouro da natação do Brasil, com César Cielo e a primeira medalha da vela feminina com Fernanda/Isabel.

Começo a acreditar em uma medalha, talvez duas, de ouro no futebol.

Brasil-sil-sil!

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